O chip cerebral da empresa Neuralink, que pertence a Elon Musk, tem causado polêmica ao redor do mundo com a sua suposta capacidade de permitir aos seres humanos controlar o movimento de objetos com a mente. Apesar de animados com a novidade, cientistas também têm demonstrado preocupação com o dispositivo.
A companhia realizou seu primeiro teste com seres humanos no final de janeiro. No mês seguinte, a Neuralink anunciou que o paciente havia conseguido mover um mouse por meio de telepatia. Na ocasião, Musk declarou que o progresso tem sido constante e que a empresa já prepara os próximos passos. A ideia é que o paciente consiga também clicar com o mouse.
O chip da Neuralink foi desenvolvido com o objetivo de ajudar pessoas com algum tipo de paralisia, como tetraplegia.
Falta transparência, dizem especialistas
Em entrevista à revista Nature, cientistas questionaram a transparência da companhia de Musk em relação ao experimento. Além do tuíte do bilionário, não houve confirmação de que os testes começaram. A maior parte de informação pública sobre o assunto é um panfleto de convite para que as pessoas participem do teste.
O ensaio do teste do chip cerebral em humanos não foi registrado no repositório ClinicalTrials.gov, que conta com curadoria do Institutos Nacionais de Saúde dos Estados Unidos. O repositório serve de referência técnica a muitas entidades. Algumas universidades requerem o registro do teste em algum sistema do tipo antes de autorizarem o envolvimento de participantes. Revistas médicas também fazem desse registro uma condição para publicar os resultados de pesquisas.
O neuroengenheiro da Universidade de Oxford, no Reino Unido, Tim Denyson, destaca que não há informações, por exemplo, de em que lugar a empresa está realizando as implantações e de quais resultados serão avaliados.
Nessa fase de testes, especialistas esperam que a segurança seja a prioridade. Isso envolve observar possíveis efeitos de longo prazo nos pacientes para ter certeza de que não haverá sangramento, AVC, infecções ou dano vascular, como explica Denyson.
O panfleto da pesquisa afirma que os pacientes serão acompanhados durante cinco anos. Também diz que o ensaio irá avaliar a funcionalidade do chip cerebral e, por isso, os participantes devem usá-lo ao menos duas vezes por semana. Eles devem tentar controlar um computador e, depois, reportar a experiência à companhia.
Controvérsias na aprovação da FDA
A neurocientista do Centro Universitário Médico Utrecht na Noruega presidente da Sociedade BCI (Interface cérebro-computador), Mariska Vansteensel, quer saber se o sinal neurais diminuem com o tempo.
O procedimento foi aprovado pela Food and Drugs Administration (FDA), a Anvisa dos Estados Unidos. “Minha suposição é de que a FDA e a Neuralink estão seguindo o manual até certo ponto”, avalia a cientista. “Mas não temos o protocolo, então não sabemos disso”, completa.
A agência estadunidense havia rejeitado um primeiro pedido da Neuralink para os ensaios em seres humanos do chip cerebral. Na época, as principais preocupações envolviam a bateria de lítio, a possibilidade de pequenos fios do implante migrarem para outras áreas do cérebro e se e como o dispositivo pode ser removido sem danificar o tecido cerebral.
Em março, um mês após a aprovação para testes em humanos, a FDA encontrou problemas nos registros de teste feitos com animais para o chip, conforme reportou a Reuters. Os inspetores observaram lapsos de controle de qualidade em uma das instalações da Neuralink na Califórnia.
Entre os problemas identificados estão: a falta de registros de calibração de materiais em alguns dos testes e a ausência da assinatura de funcionários de garantia qualidade no relatório final do estudo.
Pesquisadores questionam ética do chip cerebral
Antes dos testes em humanos começarem, pesquisadores expressaram preocupação em relação à ética do chip cerebral. Embora a proposta inicial seja ajudar pessoas com paralisia, o chip de Musk parece servir para outros processos, como controlar o computador com a mente
A professora associada do Centro de Bioética e Humanidade da Universidade de Medicina SUNY, em Nova York, Dra. L. Syd Johnson, analisa que o mercado voltado para o chip cerebral, considerando apenas a função de ajudar pessoas tetraplégicas, é muito pequeno.
“Agora, se o objetivo for o uso dos dados cerebrais adquiridos para outras atividades — dirigir um Tesla, por exemplo — então existe um mercado muito, muito maior. Mas aí todos esses indivíduos usados na pesquisa, que são pessoas com necessidades especiais genuínas, estarão sendo explorados em um estudo arriscado, para o ganho comercial de outra pessoa”, afirmou ela ao Daily Beast.
Fonte: Olha Digital
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