Coral apoiado pela Secretaria Especial da Cultura traz novas perspectivas para jovens da periferia de Vitória

Ensinar as tessituras musicais, as extensões vocais e a força expressiva que vozes em uníssono têm, abrindo caminhos e trazendo oportunidades de vida para jovens de comunidades vulneráveis de Vitória, no Espírito Santo (ES). Este é o objetivo do Algazarra Coral, que tem se tornado referência do gênero tanto no estado, como em todo o Brasil.

Desde 2017, o grupo conta com apoio da Lei Federal de Incentivo à Cultura para realizar suas ações. Só neste ano, captou R$ 210 mil em patrocínio do Instituto Unimed, que desenvolve diversas ações também em outras cidades brasileiras, por meio da Lei de Incentivo.

Segundo a fundadora e diretora do Algazarra, a maestra Ana Alice do Nascimento Silva, o apoio da legislação está sendo fundamental para ampliar as ações do grupo. “O patrocínio fez com que pudéssemos manter o Algazarra Coral em plena atividade. Foi um crescimento técnico muito bacana, porque esse ano a gente se propôs a preparar uma obra completa, em vez de uma música. Então nós preparamos uma obra que Mozart escreveu na sua adolescência, ele tinha 15 anos. E isso chamou muito atenção do meio da música coral e de concerto”, conta ela.

Histórico

Fundado em 2011 como uma iniciativa de voluntariado de Ana Alice, do músico e professor Juca Magalhães e de outros 20 integrantes fundadores, o Algazarra manteve suas atividades ininterruptas por meio do voluntariado – até obter o apoio da Lei de Incentivo à Cultura. Na bagagem, o grupo traz mais de 350 apresentações, com passagem por importantes eventos do gênero, como o Gran Finale, o maior festival de coros infantil e jovem do Brasil, organizado em São Paulo; o Cantoritiba, na capital paranaense, e o ECOS – Encontro Nacional de Coros do Recôncavo Baiano. Também já se apresentou com a Orquestra Sinfônica do ES (OSES) e a Orquestra Camerata SESI.

A cada ano, são abertas novas inscrições para quem tem interesse em participar do grupo. Atualmente, o Algazarra conta com 45 integrantes, moradores do bairro Itararé, na região de Grande Maruípe, onde o grupo desenvolve suas atividades. O local, uma das regiões de maior vulnerabilidade de Vitória, não dispõe de qualquer equipamento cultural municipal ou estadual, tendo alta demanda por atividades de formação e capacitação, principalmente as artísticas.

Segundo Ana Alice, o sucesso da iniciativa se deve ao canto coral ser uma das artes que mais trabalha a cidadania. “O canto coral ensina a pessoa não só a cantar, mas a cantar junto. O cantar pede para ela olhar para dentro de si mesma, e o cantar junto, para ela ouvir o outro. Então, se a ideia é que a música também seja ferramenta na construção de uma sociedade mais civilizada, uma sociedade que se preocupa consigo mesma, com o outro, uma sociedade em que os cidadãos conseguem fazer melhores escolhas para si mesmos e para o outro, então o canto coral é realmente eficiente”, conta a maestra.

Para tanto, desde o início, todo o processo do Algazarra foi criado em conjunto com os jovens e crianças que participaram – inclusive o nome, que veio da bagunça que faziam quando se juntavam. Os jovens tiveram que aprender a se virar, até mesmo para conseguir locais na comunidade nos quais pudessem ensaiar. Esta metodologia deu tanto resultado que, mesmo aqueles que não quiseram se dedicar à música, trilharam caminhos bem-sucedidos em diversas áreas e se formaram educadores, advogados, médicos, entre outras profissões.

Segundo o Secretário de Fomento e Incentivo à Cultura, Camilo Calandrelli, o ensino das artes desenvolve habilidades diferenciadas nas crianças e nos jovens, o que faz com que ampliem suas perspectivas. “O ensino das artes permite às crianças desenvolverem aspectos como a sensibilidade, a percepção, a expressividade, a espontaneidade, despertando a consciência de si, de nossos símbolos e valores. A arte é o principal meio de se edificar a alma e nossas crianças precisam aprender os conceitos mais básicos sobre estética e as mais diversas técnicas artísticas, incluindo o canto, a música”, comenta ele.

Mudança de rumos

O adolescente Murilo Bispo Mattos, de 13 anos, está no Algazarra há dois anos. Foi a mãe que o inscreveu no projeto, após encontrar informações sobre o coral nas redes sociais. Segundo o estudante, “o Algazarra trouxe atividades para o meu dia-a-dia, ao invés de ficar em casa só no celular. Assim que eu entrei, eu tive medo de não fazer amigos, mas com o tempo isso foi passando. Hoje eu saio com o coral, conheço lugares novos, e estou me soltando mais”, conta ele.

Para Ana Clara Moreira de Oliveira, de 21 anos, que está no coral desde a primeira reunião, quando ainda não tinha nem o nome atual, a experiência também tem resultados terapêuticos. “O contato com a música, ele também é muito bom para a saúde. Eu muitas vezes já tive ansiedade, já tive problemas emocionais, e a música me ajudou a superar isso de forma mais tranquila. Eu não tive tanto problema por esse acesso à música”, conta.

Incentivo fiscal

A Lei Federal de Incentivo à Cultura contribui para ampliar o acesso dos cidadãos à cultura, uma vez que os projetos patrocinados precisam oferecer atividades de ensino, capacitação e formação. Ou seja, eles devem promover atividades como oficinas, workshops e palestras, com o objetivo de ampliar ainda mais suas ações, até mesmo para que possam ser replicadas.

Por meio do mecanismo, criado em 1991 pela Lei 8.313, empresas e pessoas físicas podem patrocinar espetáculos, exposições, shows, livros, museus, galerias e várias outras formas de expressão cultural. O valor investido, total ou parcial, é abatido do Imposto de Renda do patrocinador.

Fonte: Cultura/Governo 

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